Com diagnósticos de dois tipos de câncer, a aposentada Rosanea Melo precisa de atendimentos no Sistema Único de Saúde (SUS) com frequência. Mas toda vez que vai até uma das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) de Palmas, a demora é certa. “É rara a semana que eu não estou passando mal, que eu não tenha que ir para a UPA, e quando eu chego lá me deparo com uma situação terrível porque não tem médico para te atender. Dizem que tem médico, mas você não encontra. O médico não te socorre no momento que você precisa”, relata.
A aposentada ainda conta que as unidades estão sempre lotadas e que há demora na transferência de pacientes para o Hospital Geral de Palmas (HGP). “Na semana passada cheguei lá às seis da tarde, vi a médica quando estava passando muito mal, ela me medicou e não a vi mais. Saí no outro dia 8 da manhã sem aparecer nenhum médico nem para me dar alta”, reclama Rosanea.
Já faz quase dois meses que a forma de encaminhamento de pacientes das unidades de saúde municipais para os prontos-socorros de hospitais estaduais passou a ser através da Central Estadual de Regulação (CER) e do Núcleo Interno de Regulação (NIR/HGP). A intenção é fazer uma espécie de triagem e diminuir a lotação e internações nos corredores. Mas isso tem gerado mais demora no encaminhamento e reclamações de quem precisa de internação no estado.
Sem preparação na base
O advogado Paulo Peixoto, especialista em Saúde Pública, diz que há problemas na implantação de mudanças radicais no sistema sem preparação da base na saúde.
“Se a saúde estadual ou municipal está organizada, consegue suportar. Agora simplesmente mudar de uma hora para outra sem que haja esse teste. Todas as unidades são integradas e se não há essa integração, se muda de um lado e deixa o outro a desejar, realmente você não consegue fazer a integração do sistema e não haverá efetividade. A saúde é que fica a desejar”, explica o especialista, reforçando que as medidas de atendimento a todos são garantidas pela Constituição Federal.
O que dizem os órgãos de Saúde municipal e estadual:
A Secretaria Municipal da Saúde (Semus) informa que não houve falta de médicos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), que atuaram com escala completa. A Semus também reforça que apesar do período suscetível das pessoas à síndromes gripais, o que pode aumentar a demanda, todos os pacientes que procuraram as unidades foram atendido.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES-TO) esclarece que as demandas da Central Estadual de Regulação são constantes, uma vez que a mesma recebe solicitações de pacientes de todas as unidades hospitalares e Unidades de Pronto Atendimentos (UPAs) que necessitam de atendimento especializado. A SES-TO enfatiza que as transferências obedecem a critérios de avaliação médica, de profissionais das unidades que solicitam e que compõem a Central Estadual de Regulação.
O ISAC – Instituto Saúde e Cidadania, gestor da UPA Araguaína, informa que depende da Regulação Estadual, responsável pela gestão de leitos públicos no Tocantins, para transferir pacientes. E isso acontece pelo perfil da UPA, que é uma unidade transitória que o paciente deve ficar até 24 horas. Agora, quando esse prazo é descumprido, a UPA mantém o paciente em assistência e comunica imediatamente os órgãos de controle. Afinal, a unidade não possui ambientes de internação.